Enzima do ananás transforma resíduos de peixe e aves em ingredientes com potencial na aquacultura

Investigadores da Universidade Católica Portuguesa provaram que a bromelaína, uma enzima proveniente do ananás, pode transformar resíduos de peixe e aves em ingredientes bioativos de alto valor. O estudo, desenvolvido no âmbito do projeto Pep4Fish, foi publicado na revista internacional Next Research.

Vísceras, cabeças, peles, ossos e ligamentos: estes são alguns dos subprodutos animais — partes que não são adequadas para consumo humano direto, mas que representam uma fração significativa da produção agroalimentar. A crescente preocupação com o desperdício alimentar — consagrada na Meta 12.3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que propõe reduzir para metade a perda e o desperdício de alimentos até 2030 — impulsiona novas soluções para valorizar estes resíduos.

Foi neste contexto que a equipa do CBQF – Centro de Biotecnologia e Química Fina – Laboratório Associado da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa desenvolveu um processo biotecnológico inovador. Utilizando bromelaína, uma enzima de origem vegetal, os investigadores conseguiram quebrar as proteínas presentes nestes subprodutos e gerar biopéptidos — pequenos fragmentos proteicos — com atividades antioxidantes, anti-hipertensivas e promotoras de crescimento de probióticos.

Este processo, tecnicamente chamado de hidrólise enzimática, revelou-se altamente eficiente, confirmando o potencial da bromelaína como alternativa sustentável aos métodos químicos convencionais e como ferramenta para transformar resíduos em ingredientes com valor funcional.

Este estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto Pep4Fish, que tem como objetivo criar dietas inovadoras para peixes de aquacultura, como o robalo e a dourada, utilizando hidrolisados proteicos produzidos em Portugal. Embora esta publicação científica não envolva diretamente ensaios com animais, os resultados obtidos sustentam o desenvolvimento de ingredientes funcionais que podem vir a integrar as novas rações testadas no projeto.

Ao demonstrar a eficácia de um processo limpo, baseado numa enzima natural e sustentável, os investigadores reforçam o compromisso com uma aquacultura mais eficiente e alinhada com os princípios da economia circular.

O estudo, publicado na revista Next Research, foi conduzido por Sandra Borges, Tânia C.F. Ribas, Maria Leonor Castro, Débora Campos, Maria João Mota, André Almeida e Manuela Pintado, e propõe uma abordagem enzimática inovadora, em alternativa a processos químicos ou enzimas de origem animal.